Irín Tité – Ferramentas Sagradas nasceu do desejo de discorrer sobre um assunto até então pouco explorado pela bibliografia do candomblé. Pesquisando em autores e livros matrizes da cultura afro-brasileira, tais como nas obras de Pierre Verger e Juana Elbein – para citar aqui apenas parte de minha busca –, atentei para o fato de que a literatura candomblecista tem alcançado um grande prestígio na comunidade das letras, levando-se em conta a produção escrita das últimas décadas. Apesar do interesse crescente pelas culturas de raiz africana, interesse despertado certamente pelas políticas públicas de conscientização promovidas nos últimos vinte anos, muito ainda há que se fazer em prol da comunidade afro-descendente, tornando-se a promoção de sua esfera cultural um item a ser posto em evidência. Fazendo um levantamento bibliográfico em livros e sites de internet, dei-me conta de que muito já se publicou sobre cantigas de orixás, ebós, técnicas divinatórias, mitologia, antropologia, história etc., mas que pouquíssimo ou quase nada se disse sobre os ferros sagrados que compõem as ferramentas dos santos, elementos indispensáveis para o encantamento das deidades africanas.
Concebido a partir do desejo de suprir uma carência da literatura sobre as religiões afro-brasileiras, este livro apresenta, de forma bastante prática, através de textos e de ilustrações, as ferramentas principais de todos os orixás, respeitando a ordem de xirê. De Exu a Oxalá, são expostas, desde peças maiores, até aquelas menores, igualmente importantes na montagem dos assentamentos dos orixás. De todas as divindades que compõem o panteão iorubano, apenas Nanã é excluída, devido ao fato de não aceitar metais em seus ibás.
Ibás e ojubós, ambos compostos com ferros específicos de cada santo, são compreendidos pelas casas de candomblé como elos indispensáveis para a ligação entre as divindades e os iniciados. A partir de rituais acompanhados de cânticos e de rezas, os receptáculos adquirem o axé dos orixás, vinculando-se para sempre a uma determinada energia. É, pois, nos assentamentes onde reside a força dos orixás, encantados que são pelos elementos que os compõem. Este livro trata especificamente da temática dos ferros sagrados, não discorrendo sobre outros objetos tão importates quanto os ferros na montagem dos ibás, tais como otás, búzios e favas. Diante da precariedade da literatura sobre as ferramentas sagradas, eis aí um livro que, de forma simples e direta, vem enriquecer a bibliografia sobre a cultura religiosa afro-brasileira.
Babalorisá Mauro de T’Òsún